quarta-feira, 11 de junho de 2008

É possível fazer cursos totalmente a distância?

Mesmo com cenário ideal de inclusão, modalidade gera polêmica.

Apesar do crescimento expressivo da EAD (Educação a Distância) recentemente - mensurável, entre outros fatores, pelo aumento na oferta de vagas de cursos a distância nas instituições - oferecer cursos no formato 100% não-presencial ainda divide especialistas. Quem defende a modalidade como saída para driblar a exclusão no Ensino Superior aposta na viabilidade do modelo apenas em longo prazo. Os mais radicais, no entanto, não a consideram viável nem assim. Continuam a defender 20% de aulas presenciais para manter o contato do aluno com o professor e sua integração social.
A principal questão prática apontada por especialistas para que a proposta de cursos 100% não-presenciais continue a gerar tanta polêmica se deve ao fato de que a inclusão digital no Brasil ainda não é uma realidade. Isso significa que não são todos os estudantes com a preparação tecnológica exigida por esse tipo de curso. Muitos dependem dos pólos de apoio para estudar. Em alguns casos, estes pólos são muitos distantes das casas dos alunos. Sendo assim, o deslocamento, por si só, já seria um fator de exclusão.
A diretora de EAD da PUC-Minas (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais), Maria Beatriz Gonçalves, defende que não é possível haver aulas sem nenhum encontro presencial. "Algumas atividades devem ser realizadas presencialmente, como provas - para evitar fraudes - e práticas de laboratório. Fora tais atividades, todo o conteúdo restante pode ser passado de forma virtual, mas falar em ensino totalmente a distância ainda não é possível no país, já que os pólos de EAD são necessários para promover a inclusão de alunos carentes", afirma ela.
O presidente do Conselho Científico da ABED (Associação Brasileira de Educação a Distância), Waldomiro Loyolla, acredita que outro fator de impedimento para a realização de cursos 100% a distância são os recursos financeiros necessários para dispor dos aparatos tecnológicos fundamentais para se estudar em casa. "A EAD totalmente on-line exige uma um aparato tecnológico dos alunos. Trata-se de um custo alto com o qual muitos não têm como arcar. Por isso foram criados os pólos de apoio", explica ela.
Hoje, na opinião de Loyolla, apenas algumas graduações se adaptariam à modalidade 100% não-presencial. "Cursos que trabalham a análise de redes, por exemplo, poderiam ter sua versão totalmente on-line porque todo seu programa é desenvolvido a distância e, teoricamente, não há muita prática", diz. Num cenário mais amplo, porém, a aposta para educação 100% não presencial acaba sendo vislumbrada para o futuro. É o que defende o diretor executivo da FGV on-line (Fundação Getulio Vargas), Stavros Panagiotis Xanthopoylos. "Futuramente a tendência é que os equipamentos sofram uma queda de preço. As universidades só podem oferecer uma educação 100% a distância quando chegar esse momento", defende ele.
O responsável pela área de Tecnologia da Informação do Mackenzie (Universidade Presbiteriana Mackenzie), José Augusto Pereira Brito, concorda com Xanthopoylos quanto à futura possibilidade de um curso totalmente não-presencial. "Ao serem desenvolvidas novas tecnologias interativas que alcancem o aluno em qualquer local podemos pensar em oferecer um ensino sem a necessidade de encontros presenciais", opina.
Preparo de professores e alunos
Para ser oferecido um curso de EAD totalmente on-line, Brito acredita ainda que faltam recursos a serem desenvolvidos. "Para tal oferta se concretizar as universidades devem primeiro desenvolver novas tecnologias para integrar os alunos e permitir algum tipo de interação on-line", acredita ele. Na opinião dele, para que a educação totalmente a distância seja satisfatória, o curso ainda deve ser bem elaborado, com metodologia e conteúdos coerentes. Ele completa que os professores de EAD precisam ser mais bem preparados, assim como os docentes dos cursos presenciais. "Eles devem prender a atenção da maior quantidade de alunos, por isso devem ser mais didáticos", diz Brito.
Além da tecnologia a ser desenvolvida para que um curso totalmente a distância funcione, os alunos precisam desenvolver autodisciplina, acredita a professora da PUC Minas. "A disciplina deve ser ainda maior que na atual EAD. Da maneira feita hoje, os alunos podem tirar dúvidas com os monitores ou professores presencialmente. Numa modalidade 100% não-presencial, a única maneira de sanar uma dúvida será quando o aluno enviar sua pergunta e esperar a resposta do professor ou quando ele mesmo buscar a solução", afirma Maria Beatriz.
A crítica mais contundente em relação à oferta de cursos 100% não-presenciais parte da coordenadora do GV NET (Programa de Educação a Distância da FGV-EAESP - Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas), Marta de Campos Maia. Além de se apoiar nas desvantagens do atual cenário de exclusão digital, ela defende a importância de um primeiro contato pessoal entre professor e aluno. "É preciso haver um contato inicial presencial entre eles. O restante do curso pode ser realizado por meio de computadores, mas é importante ter essa primeira troca, assim o aluno conhecerá quem lhe dará aula", afirma.
Vantagens de cursos 100% a distância
Mesmo no cenário ideal de inclusão digital e acesso ao Ensino Superior, a educação 100% a distância continua a dividir os especialistas. Alguns vêem vantagens concretas, como por exemplo, a total flexibilidade para o aluno sem tempo. Outros, por sua vez, temem o total distanciamento do indivíduo da sociedade.
"A possibilidade de acesso é múltipla, o estudante pode estar em qualquer lugar com conexão à Internet para fazer as aulas e não há dias programados para ir ao pólo de apoio. Quando bem estruturado, a qualidade do curso on-line é melhor do que dos presenciais porque o material é feito para o aluno estudar sozinho", afirma Xanthopoylos. Loyolla concorda com a maior disposição do espaço e aposta na flexibilidade de tempo. "O aluno faria as aulas quando preferisse e teria tempo para se conhecer e organizar seus prazos para fazer as atividades e entregar os trabalhos. Ele pode escolher se fará tudo de uma só vez ou se realizará as atividades de acordo com seus prazos", explica ele.
A coordenadora do GV NET, por sua vez, acredita que as vantagens de cursos não-presenciais contemplem apenas os cursos de curta duração. "Os cursos de extensão - com até 90 horas de duração - são válidos no modo totalmente a distância. Já os cursos de graduação certamente teriam uma evasão muito maior sem a integração. Os alunos se sentiriam abandonados por não fazer parte de um grupo", opina. Segundo ela, talvez a nova geração consiga fazer um curso totalmente on-line, mas mesmo usando os computadores com grande freqüência é da natureza humana buscar o contato com o outro. "Se o aluno acha que não faz parte de um grupo, isso o desmotiva e o faz abandonar a graduação", diz Marta.

Retirado do site: http://www.universia.com.br/materia/materia.jsp?id=16030

Luan Henrique C. de Moraes.

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